sábado, 26 de dezembro de 2009

engano novo

um surpreendente ano novo.

arriscando e prometendo e pretendendo cumprir.
um sair do eixo, sincero desleixo, tentando suprir.
um grito bem alto, um despir-se do salto, um deixa cair.
aventurar-se no passo, sem fracasso ou cansaço, eterno expandir.
ser apenas humano, admitir um engano, deixar-se existir.

e que sejamos capazes de entender que ano novo é todo dia.

o que resta

chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
o que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar,
de repente não presta mais:
jornais, retratos, poemas, posteridade.
minha bagagem é a roupa do corpo.

fabricio.carpinejar

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

lee

e você me pede
pra ter paciência
e juízo
mas o que eu gosto
é de andar na beira
do abismo

arriscando minha vida
por um pouco
de emoção

rita

um belo dia resolvi mudar
e fazer tudo o que eu queria fazer
me libertei daquela vida vulgar
que eu levava estando junto a você
e em tudo que eu faço
existe um porquê
eu sei que eu nasci
sei que eu nasci pra saber
e fui andando sem pensar em voltar
e sem ligar pro que me aconteceu
um belo dia vou lhe telefonar
pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
no ar que eu respiro
eu sinto prazer
de ser quem eu sou
de estar onde estou
agora só falta você

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

irrompem agônicos, nítidos

não sou ninguém! quem és?
és tu - ninguém - também?
há, pois, um par de nós?


emily.dickinson

sábado, 19 de dezembro de 2009

só me fantasio do que venho a ser

é na clareza da mente que explode a procura do novo processo
e o que é meu direito eu exijo, não peço
com a intensidade de quem quer viver e optar: ir ou não por ali
a nossa primeira antena é a palavra que amplia,
a verdade que assusta
e a gente repete que quer mas não busca
de um modo abstrato se ilude que fez


oswaldo.montenegro

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

sem a loucura, nada se acha de agradável na vida

e onde há muito sentimento há também muita contrariedade.


erasmo.de.rotterdam

now all my nightmares know my name.

complementando o post "pré-crítica", já que alice, pra mim, é uma espécie de obsessão...

ontem estava no site da uol que uma brasileira desenhou uma série de hqs sobre alice, e qual não foi a "surpresa" ver que a alice dela é mais uma copiazinha medíocre da disney...hunf! ¬¬
mas!!
fuçando o orkut de uma amiga, algo que estava adormecido no meu cérebro desde 2005 veio à tona com imenso êxtase: phantasmagoria - the visions of lewis carroll!
pra quem não sabe, um filme de terror (?), dirigido pelo marilyn manson com base nos livros e na vida de carroll, onde o músico, além de dirigir, atuará como o próprio carroll.
manson optou por não usar computação gráfica (isso!!), convidando um mágico ilusionista pra criar os efeitos.
pode parecer estranho aos olhos de alguns, mas eu gosto do marilyn manson. dele mais do que das músicas, mas gosto.
e, se ele diz ter transformado tweedledee e tweedledum em gêmeas incestuosas, certamente ele se livrará do maldito vestidinho azul da alice.


o filme está enroladíssimo desde 2005, mas reza a lenda que ano que vem ele surge nas telonas.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

mil desculpas, mil perdões, e tudo isso que é bonito.

a magricela fechava a janela tentando ignorar as conversas queixosas das comadres que passavam, paravam, compravam uma cocada ali em frente e vinham se sentar no banquinho roto da calçada, logo abaixo de seu quarto.

eu também fecho a janela pra te ignorar, embora você esteja a kilometros do meu quarto.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

univitelinas

questiono a sanidade daqueles que me vem orar a respeito de almas gêmeas.
o que lhes faz pensar que, ainda que existam, tais parentas estejam ambas encarnadas, e não só isso, encarnadas em humanos, de idades plausíveis, e num raio físico-cronológico próximo.
que lhes faz pensar que nem o humor oscilante, nem o café na camisa, nem a pressa, nem a outra irá impedí-las de encontrarem-se?
como é cômodo acreditar que almas gêmeas jamais seriam incompatíveis, jamais seriam...
aqueles dois sujeitos ali que, ao passarem um pelo outro, apressados e mal humorados com a garoa que lhes desalinha os cabelos, apaixonam-se de cara, um pelo terno de tatuagens mal escondidas, outro pelo piercing do queixo que se intimida entre a barba rala.
no meio das letras do pensamento, um não passa de uma vírgula para o outro e, acabam, mutuamente, por deixarem-se escapar pelos dedos e agora-já-foi.
e quem irá, um dia, provar que eles não eram?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

mode on

- é que me parece que você não pára de pensar, e isso me intimida.
- não há que se deixar a mente em branco.
- mas não é possível que você reflita sobre as grandes questões da humanidade enquanto escova os dentes.
ela pousou o olhar do outro lado da rua, em um casal que guardava compras no porta-malas do carro, deu um gole a mais em seu suco e concordou sutilmente com a cabeça.

no dia seguinte, no café da manhã, leu distraidamente uma receita sugerida na embalagem de seu leite e indignou-se com os ingredientes.
entre uma mordida e outra na torrada, criou mentalmente toda uma reportagem sobre nichos de mercado mal aproveitados, que incluiría, inclusive, uma carta aos sac's de grandes empresas, pedindo um pouco mais de bom senso.

domingo, 22 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

pré-crítica

não quero cuspir para cima pois, dizem, pode cair na cara.
mas...

essas imagens, divulgadas em doses homeopáticas, da tão sonhada versão de tim burton para "alice no país das maravilhas" estão me frustrando.
principalmente por parecerem em demasia com o desenho consagrado da disney.
ok, o filme também é da disney e é óbvio que há interesse em que ambos se pareçam.
mas, sonhei por anos com tim burton filmando alice justamente para ver uma versão de alguém que leu o(s) livro(s) e conseguiu se desprender da tal loirinha de vestidinho azul, e voilà.... ele me vem com uma loirinha de vestidinho azul.
e como a protagonista, quase todos os personagens (e cenários) são exatamente como os do desenho, apenas reformulados.
outra coisa que me incomoda é o vício de misturar "alice no país das maravilhas" com "alice no país do espelho", e a avalanche que isso gera de comentários ignorantes de jornalistas que desconhecem a existência do livro menos famoso.
tudo isso sem contar a assustadora técnica escolhida: misturar live act com 3d em captura de movimento. [vide "a lenda de beowulf"]
porém, algo que eu estou venerando é o fato de tim burton ter dado alguma notoriedade para a rainha branca, tão vilipendiada em outras versões.
do pouco que vi, me dá a impressão de que o diretor teve sua liberdade de criação completamente podada.
de "tim burton" só restou o de sempre: o muito bom e nada velho johnny depp, a esposa do diretor, helena bonhan carter, o genial danny elfman e, claro, a atmosfera creepy.

o visual do jogo "alice", da mcgee's, certamente me desperta mais atenção.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

as intermitências da morte

"dividida

entre a esperança de viver sempre
e o temor de não morrer nunca.

entre a vaidade de saber-se único em todo o planeta
e o desassossego de não ser como toda a gente"

.saramago.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

uma rua chamada pecado

a hora, esse pedaço de eternidade que nos é dado.
e quem sabe o que fazer com ela?

domingo, 8 de novembro de 2009

joaquim

dizem, irônicos, com pernil entre os dentes,
que meu padrinho vive de amor.
ele, com os pés no mar, reflete em contrapartida
"coitados, vivem do trabalho."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

assustador

acabei fazendo mais um cretino teste-capricho do facebook.
"o que você foi na vida passada?"
o problema é que a resposta me surpreendeu.

"filósofo grego.
era um ambiente riquíssimo, em que discutia-se nas praças e nas ruas, em que pensar não era perda de tempo e que o diálogo não era apenas um entretenimento, mas uma maneira de ser parte da sociedade.
a retórica era impressindível e a palavra valiosa.
finalmente, as desavenças eram constantes, mas se atinham às disputas verbais, o que trazia um clima de humor entre os inimigos.
o mundo era um monte de estímulos que pressionavam o pensamento a criar, ao mesmo tempo que as correntes e as categorias enrigeciam os filósofos em geral.
você foi apenas mais um, não bebeu cicuta nem criou um enorme sistema filosófico, mas só de ter vivido e ter sido criado nesse ambiente, observa o mundo com pessimismo e crítica, beirando o niilismo.
a idiotice da cultura de massa e o consumismo lhe perturbam e a falta de diálogo é uma questão sempre presente em seus longos devaneios de uma vida voltada a si mesmo.
de certa forma misógeno e anti-social, algumas vezes a timidez e auto-crítica vêm à tona já que o resto do mundo, numa ditadura da alegria, lhe serve de parâmetro de comparação.
porém, a potência que permanece latente não pode ser abandonada.
o caminho solitário é precioso e quando amadurecido traz frutos deliciosos."

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

sem fio

maravilha moderna, pra mim, é azeitona sem caroço.

o vendedor, os mestres, e o que que eu tô fazendo aqui.

daí você entra no blog dela.

e lê um post sobre livros de auto-ajuda serem considerados livros de psicologia.
daí você lê o nome "augusto cury" e ri por dentro, lembrando daqueles banners que invariavelmente dizem "o livro que vai mudar sua vida", com uma foto do autor-pimpão e uma luzinha de mistério incidindo na cara. realmente patético.
enfim, eis que você resolve comentar o post e, para isso, precisa de um nome de livro do tal autor-pimpão.
wikipedia.
e é nesse momento que as coisas criam vida e você percebe que o mundo tá um pouco mais grave do que aquilo que você já tinha conseguido decifrar.
afora o batidíssimo e mais-previsível-impossível "dez mandamentos para ser feliz", o bendito sr.auto-ajuda teve a capacidade de tirar do liquidificar da filosofia barata os títulos mais risíveis.
desfrute.

- os segredos do pai-nosso
- escola da vida: harry potter no mundo real
- escola da inteligência
- o código da inteligência
- o vendedor de sonhos
- o vendedor de sonhos: o chamado
- o vendedor de sonhos e a revolução dos anônimos
- o mestre da vida
- o mestre do amor
- o mestre da sensibilidade
- o mestre inesquecível

e a cereja da desgraça:
- o mestre dos mestres

rá!
é piada, né?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

aqui dentro

me esguelho no meio das telhas e gotejo no meio da sala.

os faróis já vão abrir

na paulista o pôr-do-sol se esconde nas transversais e, para vê-lo, é preciso procurar entre os semáforos, fios, carros, prédios, raras árvores e pedestres apressados.
lá está ele.
numa silhueta disforme e diminuta, faixas de laranja e lilás enfeitam esse caos,
e quase ninguém nota.
um quarteirão mais e, volto a vê-lo.
mais azul, dessa vez.
a cada quarteirão as cores adaptam-se mais e mais à hostilidade do horizonte.
90 graus acima o preto já impera e, atrás de mim, uma tímida lua não ousa competir com os luminosos.
espetáculo urbanóide, tão pouco aproveitado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

j.g.r.

mas essa saudade latente que bate assim, sempre às 4 da tarde.
essa saudade de quem não dá desculpa pra má vontade, de quem compartilha até a preguiça.
do choro se é pra chorar e do riso se é de rir, ainda assim, com densidade.
de quem cria e se angustia e bebe e topa-tudo e entende que a culpa de agora vira história,
que é o que conta, afinal.
sinto falta daquela genuinidade que por lá não se vê mais e por aqui nunca se viu.
aquela coisa terrena de ser o que se é e pronto.
tava achando que era nostalgia mas não sei não... tem coisa que muda 'antecipado', mas logo a gente muda também e tudo se iguala.
ou vice-versa.
e se a falta se iguala tá tudo em casa, não?
é falta de quê, menina?
é falta de julia.

saidêra

entre lanternas japonesas e tampinhas de garrafa ele dançava uma valsa imaginária.
as pernas atropelavam-se, enquanto, dentro das órbitas, os olhos discutiam a relação.
a língua tentava explicar para ninguém o porque dele ter atrasado.
pouco abaixo um pulmão recostou-se no outro como quem diz "vam bora?", e o coração acordava assustado de tempos em tempos.
a única coisa ali que parecia ter compasso, era a valsa.
mas a noite estava ótima.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

mj lives

queria deixar aqui registrado (ainda que o único motivo plausível para tal seja o orgulho besta de um dia poder gritar "eu não disse!?") que eu, sem ironia alguma,

acredito que michael jackson esteja vivo.

se eu tivesse como provar eu seria a pessoa mais feliz e rica do mundo, mas eu acredito mesmo que é uma jogada de marketing boa demais para nunca ter sido realizada na nossa era-da-propaganda.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

critério

a riqueza não se mede pelas coisas que adquirimos,
mas sim por aquelas que temos a coragem de nos abster.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

amor co'ora marcada

todo descomprometimento de um amor
que se equilibra em bons momentos
sem pudor, sem cobrança, sem criança ou traição
porque não há consequência quando não há pocessão
é tão bom o deixa estar sem deixa disso
o dá se der sem dá ou desce
que pelo dito popular
se deus dará
quem há de me condenar?

domingo, 4 de outubro de 2009

ciclo

últimos 45 minutos de 20 anos de idade... e depois nunca mais.
nunca mais é uma frase que dói.
e aconteceu, acontece, acontecerá agora-em-todo-instante.
ser gente, é mesmo, outra alegria.

a falta onipresente

o mundo é ateu.
tá, eu sei que não é.
notícia boa sempre demora a chegar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

pois é, pra quê?

com os 20 e poucos batendo na porta, nenhuma certeza, nenhuma resposta, nem mesmo alguma razão.
não sei se espero ou desespero.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

pós-neo-conservadorismo

o termo "conservador" carrega em si algo ruim mesmo sem, necessariamente, sê-lo.
a princípio, já está dito, conservador é aquele que preza pela conservação de algo.
o problema começa, como diria meu sábio tio adalberto, quando o ser humano resolve interpretar.
como adjetivo, o termo acaba remetendo ao moralismo, sociedade patriarcal, onde tudo é tabú, é ofensa, é feio.
porém, por que não podemos pensar em um conservador dos princípios indígenas? só retirar da natureza o necessário para a sobrevivência.
ou dos valores hippies? sexo, drogas e rock'n'roll.
(aqui cabe um parênteses: nosso mundinho estereotipado não nos deixa ver, mas a verdade é que o hippie e suas roupas confortavelmente coloridas é mais rockeiro que você, coleguinha do cinto de rebite)
por que o posicionamento político do cidadão não pode ser o de cima? ou aquele ali, quase na diagonal da tangente, de revesgueio.
esse catálogo de adjetivos ao qual é preciso se adequar senão (senão o que?), já passou da validade.
quero fuçar no lixo dos anos 60, achar o piloto do catálogo deles, acrescentar e acrescentar, e distribuir na promoção da coca-cola.
só pela farra.
não venha dizer que por fora liberal e por dentro pão bolorento porque isso, além de vilipendiar o termo, ainda soa como piada.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

a pequenez nossa de cada dia

século 19.
a loirinha lê um livro chato que um dia há de ser clássico.
que ousadia a dela em ler um livro chato em pleno século 19,
com essa nossa contagem cronológica duvidosa,
justamente no hemisfério norte de um planetinha sólido-liquido-gasoso que plana sem explicação alguma (não se sabe ao certo se) no meio de uma vastidão de nada.
a parafina engole a chama tornando-a leitoso sopro, e mantendo-se parafina.
"logo agora que um novo capítulo começara".

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

desgastada virgindade

no arrastar da noite de domingo, passo, com a cabeça recostada no vidro do carro, pelas vitrines com dezenas de vestidos de noiva.
a luz direta, na umidade escura da rua, reflete-se nos babados de maneira desgastante.
são brancos, são champagne, são nude, são beges... no fundo são patéticamente brancos.
são de tule, tafetá, cetim e seda.
são de pano.
são evasês, drapeados, com rendas, nervuras, vidrilhos e pérolas.
são todos iguais,
cada vez mais hipócritas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

doces bárbaros

o rock é o nosso tempo, baby
rock and roll é isso
chuck berry fields forever
os quatro cavaleiros do após-calipso, o após-calipso
rock and roll
capítulo um
versículo vinte
sículo vinte
século vinte e um

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

o relógio humano

http://www.humanclock.com/clock.php

[pura diversão]

dessas conversas diárias

-acho que eu me identifiquei com direção de arte quando, na primeira aula da carla, ela disse algo como "direção de arte está em tudo. quando a gente faz uma salada a gente pode simplesmente servir uma salada ou pode compor as cores, as texturas, formas... " eu presto atenção nessas coisas praticamente 24 horas por dia.

-eu entendo! muitas vezes eu faço caponatta e só coloco pimentão pro vermelho dele pontuar.

sábado, 29 de agosto de 2009

simulacro slow motion, tensão medieval

meu rei, tu não foste covarde.
percorreste bosques, montanhas, florestas, rios e campinas em busca de esperança.
não acomodaste-te.
lutaste por teu reino, meu senhor, e teu povo reconhe-se-te.
lavaste a honra de vossos antepassados deixando, glorioso, tais longínquas terras ao novo lorde, sir trevus.
entregaste a própria vida ao abraço turvo da lâmina reluzente ao final de longas horas de árdua batalha.
jaziste com graciosidade ímpar no meio das planícies deste tabuleiro.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

o texto ao contrário.

queria escrever algo poético e semi-codificado sobre os 20 anos sem raul,
o como ele não se lembrou de surubim,
as conversas com meu pai,
o autógrafo, o pingente.

queria infiltrar entre o texto algo sobre o clipe "hurt", na versão do cash,
e em como é válida a afirmação de que a única coisa real é a dor.

porém, acho que o bem estar me impossibilita de uma inspiração mais profunda que essa confissão.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

tudo pela metade

eu admiro o que não presta
eu escravizo quem eu gosto
eu não entendo
eu trago o lixo para dentro

eu abro a porta para estranhos
eu cumprimento
eu quero aquilo que não tenho
eu tenho tanto a fazer

eu faço tudo pela metade
eu não percebo

eu falo muito palavrão
eu falo muito mal
eu falo muito
mesmo sem saber o que estou falando
eu falo muito bem
eu minto

.marisa monte.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

hora extra

a obrigação começa às 8 mas
às 6 já se está de pé.
entre 6 e 8 não é ainda obrigação,
nem vida.

fato

lazaro diz:
vc escreve pra que?
.lp. diz:
pra parar de doer

quarta-feira, 22 de julho de 2009

sir paul mccartney

acabei de ve-lo.
se isso eh 1/4 de beatles, eu entendo as garotas que desmaiavam no primeiro acorde ao ver os 4.


eh o tipo de coisa que te faz perder o medo da vida.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

aviso

mais de 20 posts de julho de 2009 foram apagados por terem servido apenas de diário temporário enquanto eu visitava ny.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

hipopótamos

O que gilberto gil, zeca camargo, michel gondry, david lynch, paulo maluf, max de castro e tomie ohtake têm em comum?


eles já desenharam um hipopótamo pra esse maluco.

terça-feira, 30 de junho de 2009

2 meses sem falar com ele, e então...

Fernando diz:
oi
.lp. diz:
aloha
Fernando diz:
tudo bom?
.lp. diz:
melhorando.
vc?
Fernando diz:
aconteceu alguma coisa?
.lp. diz:
várias.
quer que comece por onde?
Fernando diz:
eu to bem.
eu quero começar... com um comentário... e depois vc começa, ok?
.lp. diz:
ok
Fernando diz:
independente do que tenha acontecido... do que cada um sentiu... do que cada um acabou fazendo ou deixando de fazer...
lih... eu to com uma saudade COLOSSAL de vc... e nesses dias eu abri meu caderno de capa feia e na última página eu vi de novo sua foto e a frase... e fiquei mto triste.
pronto... pode começar.
.lp. diz:
mto triste? o que eu escrevi embaixo da foto?
Fernando diz:
mesmo que o tempo e a distância digam não.

domingo, 28 de junho de 2009

pelas calçadas

o coração é, no máximo, uma bomba sanguínea.
se existir físicamente (quimicamente) algo a que se possa chamar amor,
certamente está no cérebro.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

a volta

noite a dentro, o vidro embaçado difunde as luzes que passeiam pelas janelas do ônibus.
circularmente, deslizo os dedos por aquela condensação pulmonar alheia.
e me imagino vista de fora.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

aconteceu

quando um descaminho
acha o seu desvio
tudo se alivia
foi melhor assim
quando dei por mim
já estava aqui
e agora.


.marisa monte.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

1 em 1 milhão de vezes

- ô mocinha, seu tênis tá desamarrado.
- ah..
- é que quando a gente é pai uma vez, nunca deixa de ser, sabe?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

pretenciosamente despretencioso

poderia, sim, tranquilamente, ser pura inveja. mas isso seria mais fácil de engolir, suponho.
o fato é que o filme "apenas o fim", é chatíssimo.
[nesse espaço você pode refletir o quanto isso soa como inveja]
pois bem, sabendo que o filme foi feito por jovens estudantes de cinema da puc do rio, que agora começam a ser chamados de "a nova geração", ganhando certa visibilidade e alguns prêmios, todos os outros mortais estudantes do ramo sentem um certo nó na garganta.
conseguindo entender racionalmente tal fato, me desarmei de pré-conceitos e fui assistir o filme até mesmo pré-disposta a ver o que ele tem de bom. e tem, um pouco.
principalmente gregório duvivier, ator que carrega o filme nas costas, e algumas raras frases engraçadas.
mas, a bem da [minha] verdade, o filme é [repito!] chatíssimo.
consegui facilmente passar por cima das manchas na lente da câmera, das cores estouradas e do som mal captado, já que muito disso não deve ser culpa dos estudantes (experiência própria).
mas todo o resto não diz respeito à técnica...
cópia descarada de "antes do amanhecer" e "antes do pôr-do-sol", que aliás, já são cópias um do outro, "apenas o fim" tem por base (como todo filme de baixíssimo orçamento), o diálogo.
e aí entra o problema. diálogo este extraordinariamente desinteressante, recheado de frases de efeito e nomes de marcas (mcdonald's, lojas americanas, coca-cola...), essas, aparentemente, nem servindo de merchandising estavam; são citadas, juntamente com uma avalanche de referências estereotipadas (strokes, all star, orkut...), na tentativa desesperada de atingir um público jovem (chegando a lembrar a novelinha "malhação").
a falta de argumento do roteiro também incomoda. a garota esta terminando com o namorado porque vai fugir da cidade em 1 hora, e essa 1 hora de conversa é o filme.
pois bem, não parece uma fuga, muito menos um término de namoro. parece uma conversa entre amigos pseudo-cults em uma caminhada pelo ibirapuera.
nem mesmo a brevíssima (e surpreendentemente sem graça) aparição de marcelo adnet levanta a trama.
fora os vários momentos em que o filme se mostra na defensiva, colocando no tal diálogo tudo que o próprio filme tem de fraco.
agora sim posso admitir um pouco da minha inveja: o que me irrita nisso tudo é o reconhecimento nacional que esses caras estão conseguindo [ao meu ver] por nada.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

um pouco do que não fui - a mais mentirosa autobiografia

palavras domésticas – um suposto primeiro capítulo

muito me aborrece esta frustradíssima tentativa de se instalar um “neo-dadaísmo” na literatura.
bando de moleques tão inseguros e prepotentes quanto eu, porém, sem auto-crítica alguma.
são meia dúzia de palavras xulas aqui, mais algumas palavras em praticável desuso e, voilà: sou um escritor maldito, um poeta boêmio. como se obscenidades ainda chocassem alguém. mais fácil chocar com sutis delicadezas. e melhor! a boemia dos antigos botecos do bexiga é reduzida (e comparada!) às atuais boates elitistas.
em certos momentos chego a acreditar que a tentativa de escrever algo (ainda que péssimo), tirar boas fotos (sim! a onda se estende às mais caras lentes cor-de-rosa), ou qualquer manifestação artística que não envolva uma relação muito direta com talento (como pintura ou escultura... se bem que...) já é válida, já é o mais longe que uma juventude-classe-média-tolinha já chegou.
contudo, logo percebo que isso só cria uma avalanche de “arnaldos” antunes.
e o que pode ser pior que isso?
a causa de tanta falta de conteúdo, ao meu ver, não é pura e simplesmente a falta de talento nato, é, principalmente, a falta de repertório.
a velha mania de ler resumos. o não-estímulo literário dos (tão tolinhos quanto) pais.
o medo de livros grandes. o precaríssimo programa educacional.
o estímulo para começar a tentar se meter com arte? moda! incrível, não?
alguém um dia inventa um termo (seja ele cult, indie, ou o raio que o parta), desenterra uns filmes clássicos, põe umas roupas que a vó chama de “esquisitas” e pronto, sou único e criativo até minhas roupas estarem na vitrine da c&a (e esse processo é extraordinariamente rápido).
como naquela conversa em que, em uma epifania, entendi que o povo entra em contato com a moda tempo suficiente para querer e não o bastante para se apegar.
eu não sou chico, não quero tentar, e só escrevo na esperança de ganhar dinheiro com isso, já que ainda se paga pela água e pelo teto, o que, ao meu ver, é o cúmulo do absurdo.

sábado, 13 de junho de 2009

aurora

a coitada, mais que cansada, ainda teve que aguentar o nascer do sol em são paulo,
esse degradê de cinzas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

logística

me parece fazer sentido que o paraíso fique entre a saúde e a liberdade.

terça-feira, 26 de maio de 2009

mais valia

eu gostaria de passar a vida pensando.
no máximo lendo, e pensando sobre o que li.
mas alguém inventou que mesmo para beber água,
é preciso dinheiro.

e quem ganha dinheiro pensando?

sábado, 2 de maio de 2009

baader-meinhof blues

a violência é tão fascinante
e nossas vidas são tão normais
e você passa de noite e sempre vê
apartamentos acesos
tudo parece ser tão real
mas você viu esse filme também.

andando nas ruas
pensei que podia ouvir
alguém me chamando
dizendo meu nome.

já estou cheio de me sentir vazio
meu corpo é quente e estou sentindo frio
todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
afinal, amar o próximo é tão demodé.

essa justiça desafinada
é tão humana e tão errada
nós assistimos televisão também
qual é a diferença?

não estatize meus sentimentos
pra seu governo,
o meu estado é independente.

já estou cheio de me sentir vazio
meu corpo é quente e estou sentindo frio
todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
afinal, amar o próximo é tão demodé.

.legião, doa-a-quem-doer, urbana.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

pixel

esperança
que maldito sentimento é este
pintado com a cor prepotente da sacralidade?
não aprendestes ainda que só terás paz ao livrar-te dele?
repousa-te no azul marinho do sofá e adapta-te.
é nisso que meu sonho deveria condensar-se: pixel.
o problema é que eu não sonho com os olhos.

paris bem vale uma missa

vou privatizar meus sonhos
já não dou mais conta deles
o pedágio que nos separa
anda caro demais.

domingo, 26 de abril de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

sim.one

da janela, hoje, ouvi sua voz.
que belo presente me foi.
hesitei em parar os afazeres e te encontrar
e nisso, perdi o momento.
mas aquele tímbre me ficou,
que belo presente me foi.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

monocromático no país da cor infância

com qual altruísmo ele se balançava ao ranger da madeira podre, lavado à seco pela ferrugem.
pelo vai-e-vento vislumbrava um pouco além do horizonte.
como se a vida dependesse disso.
talvez dependesse.
na parábola que vivia, a austeridade ao fim da grama, não passava de adubo.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

shhh

mas aquela velha teoria de que demonstrar sentimentos é brega, não cola mais.
eu venho em defesa da voz, da expressão.
abaixo a auto-censura, a defesa pré-vista.
que venham mais palavras, mais letras, mais gestos.
pra que tanto medo do outro?
pra que recusar o sorriso, o bom dia?
vamos todos por a bunda na janela.
arriscar é preciso.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

whatafuck?!

tive um twitter por pouco mais de 24 horas, no ano passado, por pura obrigação acadêmica, quando uma professora modernosa resolveu dar uma prova pela ferramenta.
não fui contra, mas não pode-se dizer que a atividade foi levada a sério.
o fato é que nesses momentos em que pude desfrutar da futilidade "twittana", me dei conta da crescente tendência de minimizar.
por que isso veio à tona agora?
simples, onde eu olho eu vejo a palavra "twitter" e, pra quem não sabe (onde você esteve?), a principal característica dessa praga é ter míseros 140 caracteres a disposição do autor (pra se ter noção, só a primeira frase desse post tem 160 caracteres!).
fora que as postagens, na esmagadora maiorias dos perfis, contentam-se em informar inutilidades do tipo "estou no banho", "estou esfregando a barriga do meu cachorro", "acabei de voltar do shopping" e por aí vai...
outros perfis tem o objetivo de copiar e repassar links (interessantes ou não), ou pior, simplesmente colecionar seguidores.
essa haikailização, somada à incrível falta de criatividade e de crítica dos usuários, simplesmente me assusta.
não me refiro só ao twitter.
jornais televisivos ou radiofônicos e suas notícias-pílulas, o medo de livros grossos, a conversa sms, o termine logo, aprenda rápido, o volte depressa e as conclusões. ah... as conclusões!
o processo natural de ter contato com o assunto>entender>refletir>concluir, foi amputado!
pula-se do ficar sabendo para a conclusão-senso-comum.
ninguém discute, ninguém pensa, só cumprem ordens, seguem a lei natural da vida (?!) e concordam, e se conformam e vão levando.

terça-feira, 7 de abril de 2009

sábado, 4 de abril de 2009

não desperdice um segredo

mas ei broto, quer dar uma volta no meu carango, sentir o vento nos cabelos e ouvir um rock'n roll?
a vida é curta, garota, e todos nós sabemos disso.
você precisa de mais ação na sua vida, vamos pegar a auto-estrada e simplesmente não fazer planos. não nos preocuparemos com nada, um minuto de cada vez.
sem rumo, tá sabendo?
você com botas surradas, eu passo o pente no topete, não se incomode com a poeira, isso é a vida, baby.
pule no possante envenenado, fugiremos pro sul ouvindo johnny cash e chuck berry enquanto você tenta descobrir porque veio, broto.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

por entre

pelo vidro
colméia concreta
me serve de paisagem
nada mais que personagens
urbana tribo
que o sol me veta

horizonte, cinza imagem
silhueta de apogeu
no reflexo, mais novela
de lá pra cá
de paisagem
sirvo eu

quinta-feira, 26 de março de 2009

pra viagem.

se você não pode ir pro mundo, traga o mundo pro seu sofá:

http://www.couchsurfing.com/
(se você pode, mas nem tanto, durma em um sofá gringo!)



de quebra...
pra quem é minimamente autodidata ou já tem um conhecimento aceitável de alguma língua, aprenda/estude aqui: http://www.livemocha.com/

sábado, 21 de março de 2009

melancia

mas às vezes me parece só uma pilha de lembranças aquareláveis no fundo úmido da memória, mesclando-se e tornando-se mais lúdicas e coloridas.

melancolia

viver, às vezes, me parece uma constante descoberta de que podia ser pior.

quinta-feira, 19 de março de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

.tufi

eu costumava passar horas aqui com meu cachorro.
você devia ter conhecido ele.
você diria que ele era lindo.
mas não seria a primeira coisa que você diria.
você diria:
"oun..."
(todo mundo sempre começava com um sorriso)
"que gordinho..."
ele tinha algo de humano.
ele não gostava de gente.
isso a gente tinha em comum.
meu cachorro tinha sono.
eu entendo isso.
queria que você tivesse conhecido ele.
a bea foi a última a conhecê-lo.
poucas horas antes dele morrer.
poucas horas depois de eu conhecer ela.

sábado, 14 de março de 2009

aquela tal crise

vem, ó minha amada, vem
me dê a mão
e vamos sair por aí
pra ver os preços

vamos ver se o do queijo
ainda é o mesmo
que vimos ontem
quando eu te roubei um beijo

entre um reajuste e um ágio
eu atacado
você varejo

te levarei para ver como tudo
foi remarcado
desde que nossos corações
bateram juntos
ao pagar o supermercado

ao pôr do sol
você me dirá:
"olha, meu amor, como tudo sobe!"
meu coração por ti
até as estrelas

mas vem, minha amada, vem
e morre comigo
antes que até morrer
fique mais caro.

.itamar assumpção.

segunda-feira, 9 de março de 2009

o não sentido das palavras.

chuva forte.
chuva forte.
chuva leve.
chuva forte.

dois clarões quase simultâneos.
chuva forte.
chuva leve.
chuva leve.
chuva forte.
um trovão alto.

chuva forte.
chuva forte.
chuva muito forte.
chuva forte.


fatos não dizem nada.

domingo, 8 de março de 2009

mulher

- menstruação, sangue, absorvente, medo de vazar.
- cólica, mudar de posição, cólica, chá, cólica, remédio, cólica...
- depilação, cera quente, cera fria, pinça, perna, virilha, axila, sombrancelha...
- pílula, gravidez, enjôos, parto.
- maquiagem, base, pó, sombra, lápis, rímel, blush, batom...
- salto alto, sutiã, cuidado com a saia, cuidado com o decote, cuidado com a bolsa...
- tinta no cabelo, hidratação no cabelo, shampoo e condicionador, escova, chapinha....
- creme pra celulite, creme pra estria, creme pra ruga, abdominal pra barriga....
- medo de estupro, medo da velhice, medo de estar gorda, medo de ter fama de puta.
- ser boa filha, boa aluna, boa namorada, boa esposa, boa mãe, boa profissional, boa dona-de-casa, boa cozinheira, boa de cama...
- não fazer xixi de pé, não tirar a camisa no calor, pedir ajuda para abrir potes, ser taxada por ter 34 anos e ser solteira, fingir orgasmo, presenciar o seu gênero ser manipulado sexualmente pela mídia...


comemorar o que?

todo um contexto

o assobio do senhor irrompeu o ar completando todo o vazio sonoro,
tipicamente dominical, do metrô vila mariana.
melodia delicada que, deduzo pelos sorrisos fraternos, agradou.
entramos em diferentes vagões.
apenas zunidos.
quando desci na sé e voltei a ouvir o senhor assobiar,
me pareceu ridículo.

terça-feira, 3 de março de 2009

o dia delas

são paulo é vidro e ferro.
à noite é amarela e vermelha, com pitadas de verde, e raras nuances de branco.
tempo abafado, vento gelado.
logo hoje coloquei uma roupa perfeitamente adequada.
cheiro de milho.
medo do engraxate.
pena do menino miúdo e negro e de seu devil stick no farol.
dá pra sentir o relevo das faixas de pedestre se opor ao asfalto.
um perfume demasiado adocicado.
conforme ando muda-se o ângulo do campo visual e os prédios parecem grandes barras de um gráfico.
cheiro de maconha.
a luz da banca de revista ofusca minha retina fotosensível.
garganta seca em decorrência ao ar gelado.
violão mal tocado.
se a pm atendesse às expectativas e me acertasse bem em frente ao Anhamguera eu teria achado digno.
cheiro de batata frita e cerveja quente.
- ei, onde você tá?
exatamente onde eu queria estar.

[19 de fevereiro 2009]

segunda-feira, 2 de março de 2009

fer

sonhei que você tinha morrido.
não sei como e em momento algum me foi revelado.
mas você estava lá e aqui.
um em cores frias, outro em cores quentes.
ambos você.
penei durante o sonho com visões da realidade.
acordei dissipando os braços de uma jovial helena,
condensando o sonho em água salobra.

domingo, 1 de março de 2009

.machado de assis

quando os jornais anunciaram para o dia 1º deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi mui diversa da de todos os meus concidadãos. vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo(...)

enfim, chegou o dia 1º de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano. nada de ovos, nem leite, que fediam a carne. ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue, todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida(...)

dizia um grande filósofo que era preciso recomeçar o entendimento humano. eu creio que o estômago também, porque não há bom raciocínio sem boa digestão, e não há boa digestão com a maldição da carne.

morre-se de porco.

quem já morreu de alface?

o comentário que virou texto

o bom é dormir. beijar na boca.
sentir na pele.
comer comida gostosa.
fazer xixi quando está apertado.

o ruim é criança com malabares no farol,
é o bicho-homem passando fome,
os maus tratos à animais, o emporcalhamento mundial,
o dinheiro.

entre eles ainda há os bons-pra-alguns e os ruins-pra-alguns:

supostos bons: ver um bebê dormir, tirar o sapato apertado, cheiro de dama-da-noite.
supostos ruins: josé wilker comentando o oscar, tomar banho gelado, celular tocando no cinema.

mas que saber? tudo isso é bem real.



.comentado aqui.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

life, love and blues

então eu acordei (porque há de se acordar), e percebi que estava vivendo.

.isabel allende

el estado de coma es como dormir sin sueños, un misterioso paréntesis.

si tú resistes, paula, yo también.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

apenas um

saber o que se tem.
saber o que se precisa.
saber como viver sem tudo isso.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

pedra bruta

ainda que raríssimas em meio a tanta terra,
ainda que valorizadas ao longo do escambo,
e lapidadas e cravadas e carregadas de atribuído status
as chamadas "pedras preciosas"
nunca deixaram de ser pedras.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

gosto d'ocê

do tempero que eu prefiro, do sabor, do tal do "flavor".
do cheirinho de limão, do dendê e do alecrim.
cada qual manjericão, camomila ou próprio coentro.
era doce, era você
todo aroma que eu aguento
erva d'ocê.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

o vácuo

todo o desapego olímpico da exigência.
apenas uma seleta casta cósmica.
campos, radiações, energias.
ainda assim, estamos todos admitidos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

o vazio

o vazio está.
pretende, deseja, mas não.
ainda que não preenchido, o vazio carrega ainda um anseio.
não cabe em si.
não põe em prática.
ele espera.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

o nada

era uma vez o nada, com suas infinitas possibilidades.
inclusive a de continuar nada.
aflito em pensar e tornar-se pensamento,
afogou-se em tanta liberdade.

domingo, 18 de janeiro de 2009

efeito ponte

quando a nuvem de gafanhotos se aproximou já não havia colheita a devastar.
no lugar do espantalho, estafermo.
era guerra retraída, silêncio incômodo.
como se a terra desistisse de suas crias e a gravidade não funcionasse por alguns instantes e toda aquela neblina verde começasse a flutuar docemente, sem zunidos, sem anseio.
apenas um breve rangido do eixo impediria o escavado tórax de sonhar.
e nesse exato momento, como que despertada pelo metal, a atração mútua dos corpos voltasse, e covardemente vencedora, a terra recolhesse os seus em golpe seco.
o tórax viria abaixo em estridente baque e a caelifera chuva tornaria novamente verde a plantação.

domingo, 11 de janeiro de 2009

vírussimilhança

toda vez que eu vou comentar no blog dela, as letras que me pedem para provar que sou uma pessoa me fazem lembrar os muitos números que eu sou.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

.me engana que eu gosto

a esperança é uma bruxa que te leva pela mão, passivamente, até sua velhice, onde você é um acomodado sem sonhos realizados.
só pra rir da tua cara.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

plastic.sun

o garoto volta à casa da vó e se depara novamente com as frutas de plástico.
- vovó, você que comprou isso?
- comprei, sim.
- por que?
- para enfeitar.
- de onde elas vieram?
- de uma árvore de plástico.
- árvore de plástico?
- sim. tão reluzente quanto seus frutos e flores.
- tem flores de plástico na casa da tia nena!
- sim, são da mesma árvore. só existe uma no mundo, sabe? por mais que os homens tentem plantar plástico por aí, ele jamais germinará em solo fértil.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

plastic.tree

reluzentes frutas de plástico inibiam a salivação dos presentes.
o garoto loirinho pergunta à mãe de onde aquilo vinha.
- a vovó comprou para enfeitar a mesa.
- por que ela não enfeitou com fruta de verdade?
- porque fruta de verdade estraga.
- mas ela podia comer antes de estragar, e comprar novas.
- a vovó não gosta muito de frutas.
- então por que resolveu enfeitar a mesa com elas?
- não sei. talvez porque bibelôs quebrem e flores precisem de cuidados.
- a vovó tem preguiça de cuidar de flores?
- sua vó já teve muita responsabilidade na vida, meu filho.
- mas é só pôr água de vez em quando!
- coma sua sopa.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

colecionáveis

caroços de cereja e dados.
minhas mais bem sucedidas coleções.
cicatrizes também, eu poderia dizer, mas seria demasiado poético.
além de mentira.
a coleção de long plays do meu pai triplicou essa semana.
doações.
triplicou a minha herança.
minha mãe só coleciona mortos.

domingo, 4 de janeiro de 2009

re.começar

janeiro recomeça gasto.
quantos anos tem um mês?
antigamente vivia tardes intermináveis.
corria na lama, tomava banho no tanque (ou na bacia), subia em árvore, alimentava tatu, parava a bicicleta com o joelho no asfalto.
mais adiante descobri a balada, a rave, a boate, a noitada, a discoteca, ou não importa o nome de qualquer lugar semi-escuro com música alta e adolescentes bêbados.
descobri a música eletrônica, a clássica, o rock'n'roll, o punk, a mpb, o samba, o samba-rock, o rap, o indie, o jazz, e nomes e nomes e nomenclaturas inúteis.
descobri lispector, hesse, carroll, nietzsche, sartre, schopenhauer, bukowski, drummond, anjos, leminski, quintana, sponville, poe, freud.
descobri lynch, bergman, almodovar, rocha, burton, allen, buñuel, kurosawa, tarantino, kubrick, hitchcock.
descobri ryden, picasso, magritte, miró, brown, escher, dalí, kandisnsky, banksy.
descobri são paulo, sorocaba, buenos aires, maringá, natal, porto seguro, santa catarina, belo horizonte, florianópolis, campo grande, ilha bela, barequeçaba, peruíbe, foz do iguaçu, salvador.
descobri fernando, janaína, simone, edson, kotsuka, bea, lia, andré, camila, arthur, julia, alessandra.
descobri que é possível viver sem carne, sem leite, ovo, queijo, lã, couro, mel.
descobri que nem a roupa nem a louça se lavam sozinhas.
em 20 anos descobri um pouco sobre mim.
e hoje os dias vão passando como dente de leão em ventania.