terça-feira, 30 de setembro de 2008

beleza americana

“foi num desses dias, quando está prestes a nevar e há uma eletricidade no ar.
você quase pode ouvir, certo?
e este plástico estava simplesmente dançando para mim como uma criança chamando para brincar... por quinze minutos.
foi quando entendi que havia essa vida toda por trás das coisas e essa incrível força benevolente que dizia não haver razão para ter medo.
no vídeo, eu sei, não é a mesma coisa, mas ajuda a lembrar.
e eu preciso lembrar.
às vezes, há tanta beleza no mundo!
penso que não vou suportar e meu coração parece que vai sucumbir.”

domingo, 28 de setembro de 2008

perfeição

vamos celebrar a estupidez humana
a estupidez de todas as nações
o meu país e sua corja de assassinos
covardes, estupradores e ladrões
vamos celebrar a estupidez do povo
nossa polícia e televisão
vamos celebrar nosso governo
e nosso estado, que não é nação
celebrar a juventude sem escola
as crianças mortas
celebrar nossa desunião
vamos celebrar eros e thanatos
persephone e hades
vamos celebrar nossa tristeza
vamos celebrar nossa vaidade.

vamos comemorar como idiotas
a cada fevereiro e feriado
todos os mortos nas estradas
os mortos por falta de hospitais
vamos celebrar nossa justiça
a ganância e a difamação
vamos celebrar os preconceitos
o voto dos analfabetos
comemorar a água podre
e todos os impostos
queimadas, mentiras e sequestros
nosso castelo de cartas marcadas
o trabalho escravo
nosso pequeno universo
toda hipocrisia e toda afetação
todo roubo e toda indiferença
vamos celebrar epidemias:
é a festa da torcida campeã.

vamos celebrar a fome
não ter a quem ouvir
não se ter a quem amar
vamos aumentar o que é maldade
vamos machucar um coração
vamos celebrar nossa bandeira
nosso passado de absurdos gloriosos
tudo que é gratuito e feio
tudo que é normal
vamos cantar juntos o hino nacional
(a lágrima é verdadeira)
vamos celebrar nossa saudade
e comemorar a nossa solidão.

vamos festejar a inveja
a intolerância e a incompreensão
vamos festejar a violência
e esquecer a nossa gente
que trabalhou honestamente a vida inteira
e agora não tem mais direito a nada
vamos celebrar a aberração
de toda a nossa falta de bom senso
nosso descaso por educação
vamos celebrar o horror
de tudo isso - com festa, velório e caixão
está tudo morto e enterrado agora
já que também podemos celebrar
a estupidez de quem cantou essa canção.

venha, meu coração está com pressa
quando a esperança está dispersa
só a verdade me liberta
chega de maldade e ilusão

venha, o amor tem sempre a porta aberta
e vem chegando a primavera
nosso futuro recomeça
venha, que o que vem é perfeição.

sábado, 27 de setembro de 2008

porques

- meu, o snoopy é vegetariano?
- não que eu saiba, por que?
- porque eu já vi várias coisas vegetarianas, tipo... camisetas, orkut de vegetariano, flyer de festa vegana.... relacionadas a imagem dele.
- acho que é porque ele é um cachorro, e é legal.
- por que não o floquinho?
- ah, ninguém nem sabe que bicho é o floquinho, e ele é submisso ao cebolinha. o snoopy até filosofa.
- e por que não o garfield?
- o garfield come lasanha.
- ah, é.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

o pior site do mundo

http://www.lalalalalalalalalalalalalalalalalala.com/



vicia.

missão dada, missão cumprida.

- 1,2,3...testando.
- na escuta, prossiga.
- peço reforços na área 1.
- entendido, câmbio.
- necessito também de autorização para aproximação imediata.
- sem problemas, capitão. mais alguma coisa? câmbio.
- te amo.

caldo de cana.

tudo começou com uma idéia.
é claro, tudo sempre começa assim.
quase que de repente, a idéia ganhou cor.
11 horas depois, ganhou luz.
eu ganhei uma árvore
e nós perdemos a tradição.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

assim não pode, assim não dá!

sua professora quer que você cite filósofos ao invés de pensar com a própria cabeça.
seu melhor amigo considera os sofistas sujos e quer conclusões.
sua mãe carrega o celular errado.
seu namorado quer assistir "hellboy 2".
e você mora com uma pessoa que diz que o microondas dá leptospirose.


onde eu assino minha demissão?

dia desses

a felicidade deve se esconder em algum canto entre terça e sábado.

uma história romântica

ele perguntou que horas eram, mas ela não tinha relógio.
ela pensou em olhar no celular, mas lembrou que este estava no fundo da bolsa e considerou trabalhoso demais procurá-lo agora.
mesmo assim ele sentou ao lado dela.
permaneceram alguns minutos em silêncio.
ele abriu a própria mochila, empurrou alguns papéis pra lá, a blusa de frio pra cá, esticou o braço e resgatou um pacotinho aberto e amassado de trident sabor menta.
antes de se servir ofereceu o protótipo de pacotinho para ela.
ela sorriu e aceitou.
eram 17:25.

domingo, 21 de setembro de 2008

secret smile

ele sorria, apesar de tudo.
não sabia ao certo quem era, tampouco onde estava ou para onde devia ir.
mas ele sorria.
sorria um riso sincero.
ria à toa sem ser rico, ou louco.
descobriu que ainda respirava.
e ria porque era preciso.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

das pérolas diárias

duas senhoras observam, da calçada, um new beetle.

-é uma graça esse carro, não?
-é mesmo... você sabe que esse é o fusca brasileiro, né?


¬¬

terça-feira, 16 de setembro de 2008

os de papel

eu não tenho estante. mas tenho livros.
eles se acotovelam em uma prateleira crua.
gostaria de ter mais do que tenho.
e quem não gostaria?
ainda assim, há uma pequena porcentagem dos que ainda não foram lidos.
ou melhor, dos que ainda não foram terminados.
cada livro é um pouco de mim.
talvez eu seja um pouco, em cada livro.
talvez eu seja mesmo somente nas entrelinhas.
nada alcança a profundidade que um livro pode alcançar.
minha tecnofascinação sem tomada.
marco páginas com uma dama de copas.
influências.
já são muitos os baralhos incompletos.
marco passagens que me fazem sentido.
com lápis, caneta, marca-texto.
não importa.
já tive pudores.
não os conservo mais.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

mais que isso

um mês pode ter 30 dias.
pode ter 31 ou 28.
nos anos bissextos, um mês pode ter 29 dias.
ainda assim, segundo o ponto de vista cego do calendário gregoriano.
são 12, os meses.
a soma dos primos 5 e 7.
meu pai nasceu em um dia 7.
eu nasci no dia 5.
5, como os continentes, ou os sentidos.
do mês 10, do ano 1988.
somando a data até restar um único algarismo, este será 5.
minha mãe nasceu no dia 23.
2+3=5.
5 é o único número escrito nesta língua que possui o mesmo número de letras que representa.
"ano" é o nome da trupe dos 12 meses, que geralmente carregam 365 dias.
[365 somados até 1 algarismo, também dá 5]
mas entre anos, meses e dias, existem as semanas.
cada uma com 7 dias, e isso não se discute.
7 como os mares, as cores do arco-íris, as notas musicais.
[que juntamente com os 5 semitons, formam a escala dos 12 sons]
7 como os pecados, as chagas, as maravilhas do mundo.
7 como a soma das faces opostas de um dado.

domingo, 14 de setembro de 2008

precipita, hidrológica!

a poça engole a chuva
e engorda pelo asfalto.
com e conforme o tempo,
evapora e condensa.

gota, nuvem, vento.
a fina garoa coadjuva
do alto,
protagoniza a chuva intensa.

aquosa fênix
silenciosa,
como deus quis.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

em suas veias corre muito pouco sangue

na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera,
e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis.

caetano.veloso

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

transporte público

ao chegar à estação ana rosa do metrô, hoje pela manhã, me deparei com um mar de gente digno da linha vermelha. nunca estivera tão cheia a plataforma. e o mais curioso: reinava o silêncio.
o primeiro trem veio já lotado e poucos puderam embarcar.
antes mesmo de chegar, uma voz do além alertou a todos que o segundo trem não prestaria serviço naquela estação.
houve um burburinho rápido, como uma estreita revolta que conseguisse se espremer pelas gargantas engravatadas e se libertasse em forma de gemido.
segundos depois o trem passou. vazio.
imagino que a situação no paraíso, a estação seguinte, estivesse ainda mais caótica que ali.
o terceiro trem chegou e mesmo quem não queria embarcar, embarcou.
os pés equilibravam-se nos saltos, as mochilas pesavam nas costas e a temperatura destoava dos 14 graus que reinavam alguns metros acima.
R$2,30 para se meter naquela situação. a melhor opção.
ou poderia gastar a mesma quantia para meter-me em um ônibus tão lotado quanto, que, apesar de pegar um caminho mais curto, demoraria o triplo para completá-lo.
são paulo tem o metrô mais lotado do mundo?
agora conta uma novidade.

sábado, 6 de setembro de 2008

fotossensibilidade

a luz do sol reflete na água que o porteiro desperdiça na calçada.
reflete também nos ladrilhos brancos da mesma, revelando um tapete de purpurina.
reflito, andando sobre a via láctea.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

onírica

eu me sinto ausente de mim.
acabo esquecendo boa parte do que vivo por simples falta de presença.
há conversas, calorosas discussões e conclusões quase sempre previsíveis.
há trabalhos, dedicações e boas notas que não valem nada.
há filosofias de vida, restrições e receitas enfiadas guela abaixo.
afora não saber nada sobre o futuro, não ter residência fixa e viver perdendo a hora.
curiosamente não há acúmulo de melancolia.
provavelmente eu vou pra algum lugar bom enquanto minha vida passa.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

céu da boca

...é que um beijo vale mais que mil palavras
e eu tenho tanta coisa aqui pra te dizer
o silêncio fala tudo e não diz nada
e o silêncio fica imenso sem você
o silêncio tanto agride como agrada
e o meu lábio faz silêncio pra te ver

um lábio sabe mais que um sábio diz saber
a língua lambe mas não sabe o que dizer
a lábia fala mas não faz acontecer
e o silêncio fica imenso sem você

se você pudesse vir, se você pudesse ver
aqui dentro, onde o tempo não soprou o vento que faz esquecer
um lábio vale mais que muito lábia
e o meu lábio lambe os beiços por você

o mel da boca adoça mas engasga
o céu da boca engole trovoadas
a língua fala mais que mil palavras
melada, molhada, calada

vem aprender, deixa a vida ensinar
se a vida não souber, a gente pode improvisar
é que a vida ensina mais a quem deixa ela falar
deixa a vida em si ensinar, deixa eu te beijar.

(...é que um beijo...)


gabriel.o.pensador

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

abajur cor-de-carne

olha, da pessoa poder ser EXPOSTA e ALUGADA em vida, é a primeira vez que eu vejo, mas a prática dos tatuados venderem a pele para japoneses (sempre eles) transformá-los, no pós-morte, em abajures, já é semi-comum.

o que, aliás, é uma versão legalizada do que [dizem] já era feito no nazismo e [não dizem, mas...] por "hannibal's", no geral.


[pra isso pode alugar o corpo, né?]