sábado, 26 de dezembro de 2009

engano novo

um surpreendente ano novo.

arriscando e prometendo e pretendendo cumprir.
um sair do eixo, sincero desleixo, tentando suprir.
um grito bem alto, um despir-se do salto, um deixa cair.
aventurar-se no passo, sem fracasso ou cansaço, eterno expandir.
ser apenas humano, admitir um engano, deixar-se existir.

e que sejamos capazes de entender que ano novo é todo dia.

o que resta

chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
o que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar,
de repente não presta mais:
jornais, retratos, poemas, posteridade.
minha bagagem é a roupa do corpo.

fabricio.carpinejar

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

lee

e você me pede
pra ter paciência
e juízo
mas o que eu gosto
é de andar na beira
do abismo

arriscando minha vida
por um pouco
de emoção

rita

um belo dia resolvi mudar
e fazer tudo o que eu queria fazer
me libertei daquela vida vulgar
que eu levava estando junto a você
e em tudo que eu faço
existe um porquê
eu sei que eu nasci
sei que eu nasci pra saber
e fui andando sem pensar em voltar
e sem ligar pro que me aconteceu
um belo dia vou lhe telefonar
pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
no ar que eu respiro
eu sinto prazer
de ser quem eu sou
de estar onde estou
agora só falta você

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

irrompem agônicos, nítidos

não sou ninguém! quem és?
és tu - ninguém - também?
há, pois, um par de nós?


emily.dickinson

sábado, 19 de dezembro de 2009

só me fantasio do que venho a ser

é na clareza da mente que explode a procura do novo processo
e o que é meu direito eu exijo, não peço
com a intensidade de quem quer viver e optar: ir ou não por ali
a nossa primeira antena é a palavra que amplia,
a verdade que assusta
e a gente repete que quer mas não busca
de um modo abstrato se ilude que fez


oswaldo.montenegro

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

sem a loucura, nada se acha de agradável na vida

e onde há muito sentimento há também muita contrariedade.


erasmo.de.rotterdam

now all my nightmares know my name.

complementando o post "pré-crítica", já que alice, pra mim, é uma espécie de obsessão...

ontem estava no site da uol que uma brasileira desenhou uma série de hqs sobre alice, e qual não foi a "surpresa" ver que a alice dela é mais uma copiazinha medíocre da disney...hunf! ¬¬
mas!!
fuçando o orkut de uma amiga, algo que estava adormecido no meu cérebro desde 2005 veio à tona com imenso êxtase: phantasmagoria - the visions of lewis carroll!
pra quem não sabe, um filme de terror (?), dirigido pelo marilyn manson com base nos livros e na vida de carroll, onde o músico, além de dirigir, atuará como o próprio carroll.
manson optou por não usar computação gráfica (isso!!), convidando um mágico ilusionista pra criar os efeitos.
pode parecer estranho aos olhos de alguns, mas eu gosto do marilyn manson. dele mais do que das músicas, mas gosto.
e, se ele diz ter transformado tweedledee e tweedledum em gêmeas incestuosas, certamente ele se livrará do maldito vestidinho azul da alice.


o filme está enroladíssimo desde 2005, mas reza a lenda que ano que vem ele surge nas telonas.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

mil desculpas, mil perdões, e tudo isso que é bonito.

a magricela fechava a janela tentando ignorar as conversas queixosas das comadres que passavam, paravam, compravam uma cocada ali em frente e vinham se sentar no banquinho roto da calçada, logo abaixo de seu quarto.

eu também fecho a janela pra te ignorar, embora você esteja a kilometros do meu quarto.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

univitelinas

questiono a sanidade daqueles que me vem orar a respeito de almas gêmeas.
o que lhes faz pensar que, ainda que existam, tais parentas estejam ambas encarnadas, e não só isso, encarnadas em humanos, de idades plausíveis, e num raio físico-cronológico próximo.
que lhes faz pensar que nem o humor oscilante, nem o café na camisa, nem a pressa, nem a outra irá impedí-las de encontrarem-se?
como é cômodo acreditar que almas gêmeas jamais seriam incompatíveis, jamais seriam...
aqueles dois sujeitos ali que, ao passarem um pelo outro, apressados e mal humorados com a garoa que lhes desalinha os cabelos, apaixonam-se de cara, um pelo terno de tatuagens mal escondidas, outro pelo piercing do queixo que se intimida entre a barba rala.
no meio das letras do pensamento, um não passa de uma vírgula para o outro e, acabam, mutuamente, por deixarem-se escapar pelos dedos e agora-já-foi.
e quem irá, um dia, provar que eles não eram?