terça-feira, 24 de novembro de 2009

mode on

- é que me parece que você não pára de pensar, e isso me intimida.
- não há que se deixar a mente em branco.
- mas não é possível que você reflita sobre as grandes questões da humanidade enquanto escova os dentes.
ela pousou o olhar do outro lado da rua, em um casal que guardava compras no porta-malas do carro, deu um gole a mais em seu suco e concordou sutilmente com a cabeça.

no dia seguinte, no café da manhã, leu distraidamente uma receita sugerida na embalagem de seu leite e indignou-se com os ingredientes.
entre uma mordida e outra na torrada, criou mentalmente toda uma reportagem sobre nichos de mercado mal aproveitados, que incluiría, inclusive, uma carta aos sac's de grandes empresas, pedindo um pouco mais de bom senso.

domingo, 22 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

pré-crítica

não quero cuspir para cima pois, dizem, pode cair na cara.
mas...

essas imagens, divulgadas em doses homeopáticas, da tão sonhada versão de tim burton para "alice no país das maravilhas" estão me frustrando.
principalmente por parecerem em demasia com o desenho consagrado da disney.
ok, o filme também é da disney e é óbvio que há interesse em que ambos se pareçam.
mas, sonhei por anos com tim burton filmando alice justamente para ver uma versão de alguém que leu o(s) livro(s) e conseguiu se desprender da tal loirinha de vestidinho azul, e voilà.... ele me vem com uma loirinha de vestidinho azul.
e como a protagonista, quase todos os personagens (e cenários) são exatamente como os do desenho, apenas reformulados.
outra coisa que me incomoda é o vício de misturar "alice no país das maravilhas" com "alice no país do espelho", e a avalanche que isso gera de comentários ignorantes de jornalistas que desconhecem a existência do livro menos famoso.
tudo isso sem contar a assustadora técnica escolhida: misturar live act com 3d em captura de movimento. [vide "a lenda de beowulf"]
porém, algo que eu estou venerando é o fato de tim burton ter dado alguma notoriedade para a rainha branca, tão vilipendiada em outras versões.
do pouco que vi, me dá a impressão de que o diretor teve sua liberdade de criação completamente podada.
de "tim burton" só restou o de sempre: o muito bom e nada velho johnny depp, a esposa do diretor, helena bonhan carter, o genial danny elfman e, claro, a atmosfera creepy.

o visual do jogo "alice", da mcgee's, certamente me desperta mais atenção.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

as intermitências da morte

"dividida

entre a esperança de viver sempre
e o temor de não morrer nunca.

entre a vaidade de saber-se único em todo o planeta
e o desassossego de não ser como toda a gente"

.saramago.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

uma rua chamada pecado

a hora, esse pedaço de eternidade que nos é dado.
e quem sabe o que fazer com ela?

domingo, 8 de novembro de 2009

joaquim

dizem, irônicos, com pernil entre os dentes,
que meu padrinho vive de amor.
ele, com os pés no mar, reflete em contrapartida
"coitados, vivem do trabalho."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

assustador

acabei fazendo mais um cretino teste-capricho do facebook.
"o que você foi na vida passada?"
o problema é que a resposta me surpreendeu.

"filósofo grego.
era um ambiente riquíssimo, em que discutia-se nas praças e nas ruas, em que pensar não era perda de tempo e que o diálogo não era apenas um entretenimento, mas uma maneira de ser parte da sociedade.
a retórica era impressindível e a palavra valiosa.
finalmente, as desavenças eram constantes, mas se atinham às disputas verbais, o que trazia um clima de humor entre os inimigos.
o mundo era um monte de estímulos que pressionavam o pensamento a criar, ao mesmo tempo que as correntes e as categorias enrigeciam os filósofos em geral.
você foi apenas mais um, não bebeu cicuta nem criou um enorme sistema filosófico, mas só de ter vivido e ter sido criado nesse ambiente, observa o mundo com pessimismo e crítica, beirando o niilismo.
a idiotice da cultura de massa e o consumismo lhe perturbam e a falta de diálogo é uma questão sempre presente em seus longos devaneios de uma vida voltada a si mesmo.
de certa forma misógeno e anti-social, algumas vezes a timidez e auto-crítica vêm à tona já que o resto do mundo, numa ditadura da alegria, lhe serve de parâmetro de comparação.
porém, a potência que permanece latente não pode ser abandonada.
o caminho solitário é precioso e quando amadurecido traz frutos deliciosos."