segunda-feira, 15 de junho de 2009

um pouco do que não fui - a mais mentirosa autobiografia

palavras domésticas – um suposto primeiro capítulo

muito me aborrece esta frustradíssima tentativa de se instalar um “neo-dadaísmo” na literatura.
bando de moleques tão inseguros e prepotentes quanto eu, porém, sem auto-crítica alguma.
são meia dúzia de palavras xulas aqui, mais algumas palavras em praticável desuso e, voilà: sou um escritor maldito, um poeta boêmio. como se obscenidades ainda chocassem alguém. mais fácil chocar com sutis delicadezas. e melhor! a boemia dos antigos botecos do bexiga é reduzida (e comparada!) às atuais boates elitistas.
em certos momentos chego a acreditar que a tentativa de escrever algo (ainda que péssimo), tirar boas fotos (sim! a onda se estende às mais caras lentes cor-de-rosa), ou qualquer manifestação artística que não envolva uma relação muito direta com talento (como pintura ou escultura... se bem que...) já é válida, já é o mais longe que uma juventude-classe-média-tolinha já chegou.
contudo, logo percebo que isso só cria uma avalanche de “arnaldos” antunes.
e o que pode ser pior que isso?
a causa de tanta falta de conteúdo, ao meu ver, não é pura e simplesmente a falta de talento nato, é, principalmente, a falta de repertório.
a velha mania de ler resumos. o não-estímulo literário dos (tão tolinhos quanto) pais.
o medo de livros grandes. o precaríssimo programa educacional.
o estímulo para começar a tentar se meter com arte? moda! incrível, não?
alguém um dia inventa um termo (seja ele cult, indie, ou o raio que o parta), desenterra uns filmes clássicos, põe umas roupas que a vó chama de “esquisitas” e pronto, sou único e criativo até minhas roupas estarem na vitrine da c&a (e esse processo é extraordinariamente rápido).
como naquela conversa em que, em uma epifania, entendi que o povo entra em contato com a moda tempo suficiente para querer e não o bastante para se apegar.
eu não sou chico, não quero tentar, e só escrevo na esperança de ganhar dinheiro com isso, já que ainda se paga pela água e pelo teto, o que, ao meu ver, é o cúmulo do absurdo.

Um comentário:

sorriso de mona lisa disse...

paga-se por muito mais coisas.
mas o problema não está só na falta de contato com arte, cultura, tradições, antropologia, etc.

o problema está que ler orelhas de livros, tirar fotos de ângulos não-caras-mas-não-salgado [só um exemplo de fotografia, não que ele seja assim tão incrível] não é só "legalzinho".

isso deixa as pessoas visíveis.