segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

bouchonné

mais um grande lenço xadrez em tons de cinza tornava arrogante um pescoço delicado.
ele tentava convencer-me das qualidades de um vinho branco.
falava-me do bouquet e de muitos outros detalhes narcísicos, típicos de pseudo-enólogos, vide lado paterno.
o lado materno não ouvia, mas concordava.
e ele continuava prolongando minha decantação.
as lágrimas hesitavam em dúvida, não sabendo por onde deviam escorrer, pelo côncavo ou pelo convexo.
acabavam sempre por acatar newton e desciam sinuosas, como a desbravar terrenos áridos.
o lenço. o lenço era mais expressivo que o pescoço, a garganta e as cordas vocais, juntos.
quanta propriedade a língua tentava demonstrar, falhando miseravelmente a cada gole.
toda monotonia alcoólica, um quase-moralismo lapidado.
um moderno.
certamente era preferível um tinto a falar-me sobre le parkour.

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