quarta-feira, 8 de outubro de 2008

.instantes antes

por volta das onze e meia da manhã aluguei, na faculdade, uma câmera fotográfica, para concluir um trabalho pendente. como o tempo de empréstimo era vasto, eu e o andré aproveitamos para tirar algumas fotos pelo prédio. um dos pontos escolhidos foi a janela do terceiro andar, que tem sua vista para a avenida paulista, no sentido consolação.
além de fotos da avenida em si, com seus pedestres-guarda-chuva, bati uma foto dos banquinhos da área comum do prédio residencial ao lado, e o andré focou as janelas deste mesmo prédio.
acredito ter sido a terceira ou quarta vez que dei alguma atenção para a bela vista daquele local, em quase dois anos.
pois bem, o fato é que cerca de meia hora mais tarde voltamos ao terceiro andar e vimos uma grande aglomeração de pessoas exatamente naquele espaço e, conforme nos aproximávamos, ouvíamos rumores, hipóteses, risadas sádicas e todo tipo de reação ao mórbido.
no chão, abaixo das janelas e perto dos banquinhos, havia um homem morto.
o corpo já estava coberto. bati uma foto sem saber direito porque. cogitei a idéia de vendê-la a algum jornal, considerando-a vergonhosa e absurda logo em seguida. resolvi apagá-la. não apaguei. algum motivo me fez hipnotizada pela foto. não vi o desfecho da cena real, não espalhei a notícia, não pensei muito sobre tudo isso.
apenas senti profundamente aquele misto de frágil-banalidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

momentos assim têm uma poesia incrível, na minha opinião.

fazem a gente pensar em tudo num espaço absurdamente pequeno de tempo.

Grazi. disse...

adorei as referências com foto e notícia.
um banho de realidade, e não daquela que a gente tá acostumada.
eu publicaria no meu jornal. (;