sexta-feira, 13 de junho de 2008

dona dalva e os diferentes

pouco mais de 40 minutos se passaram desde que haviam chegado. o cheiro era forte. lembrava uma mistura enjoativa de caramelo com acetona... algo doce e cítrico, um tanto quanto característico do lugar. não se sabe como, nem de onde exatamente eles vieram, mas se sabe que chegaram. e desde que chegaram nada fizeram. alguns os apontavam, como se fosse necessário. alguns bêbados que passavam ainda comentavam entre si que era gente da capital que ali chegava para roubar o emprego deles.
dona dalva, de sua janela não muito distante, os observava curiosa. seu apartamento cheirava fortemente a café, sua bebida predileta. dona dalva era sozinha, perdera o último filho depois da peste do mês passado. naquela terça à noite só lhe restava mesmo ficar ali calada olhando pela janela. chegou a pensar em ir se deitar, mas a rua lhe parecia tão tentadora, e aqueles diferentes lhe hipnotizavam. estava decidida. pegou seu casaquinho verde e colocou-o por cima de seu vestido florido (típico das avós) e, assim mesmo, de pantufas, foi pra rua.
desceu lentamente as escadas já gastas de seu prédio e alcançou a calçada bem em tempo de ver a cena que lhe marcaria por todo seu restante de vida.

[2003]

Um comentário:

Anônimo disse...

céus, que cena é????